Nànàn certamente é um dos vòdúns mais misteriosos do panteão africano. Falar dessa divindade sempre se torna difícil pois, seu culto apesar de muito expandido em todo o território africano e sua importância ser reconhecida por todas as nações candomblecistas (djèdjè, kètú, angola, etc), trata-se de uma das divindades com mais mitos e temores em nossa cultura. É de origem dahomeana, da cidade de Dassa-zoumé. Para os fons, Nànàn ou Nànà era toda sacerdotiza da deusa Màwú, não sendo considerada então uma divindade. Seu nome em Dassa-zoumé era Nàè gbáýn, sendo uma poderosa deusa, cujo culto antecede o de Màwú-Lísá, estando completamente relacionada a Dàn gbé e a origem de todo o mundo e vida no planeta terra. Muitas lendas tem Nànàn como um ancestral hermafrodita, assim como Oxalá, sendo chamada de Nànàn Dènsú e tendo como esposa a grande deusa das águas Màmí Wátà. Mas sabe-se que Nànàn é uma Yaba, mãe de quase todos os deuses na cultura dahomeana e para os yorubás mãe de Òmòlú(Sákpátá), Ìròkò(lòkò) e Òsúmárè(Dàn gbèsén) que são vòdúns cultuados entre os yorubás. Nànàn representa a vida(dògbé) e a morte(dòkú). Ela acolhe em seu ventre os mortos e os prepara para o renascimento. Essa dualidade entre a vida e a morte é representada pelo pântano, seu habitat uma vez que, mistura a água(vida) e a terra(morte), formando a lama, abrindo um portal de dimensões dos vivos e dos mortos. Para que haja lama ou barro é necessário haver chuva e por esse motivo, Nànàn também passou a ser considerada a divindade das chuvas. Nànàn gbúlúkú ou gbúrúkú é outro nome pela qual essa deusa de tornou conhecida, nessa fase, estando relacionada a morte e ao culto aos ancestrais. Seus cantigos são súplicas para que a morte se mantenha afastada e que a vida seja preservada. Está relacionada ao início de tudo e segundo os ítàns, foi ela que cedeu o barro para que o homem fosse modelado porém, com uma condição, ao morrer os corpos deveriam ser enterrados, voltando para o seu domínio. Nànàn de origem dahomeana, foi incorporada há séculos pela mitologia Yoruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Òrísás dos dominados à sua mitologia já estabelecida. Nesse processo cultural, Oxalá (mito yoruba ou nagô) continuou sendo o pai de quase todos os orixás. Íyèmònjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nànàn (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos dahomeanos,. Os mitos dahomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo). Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nànàn e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Yèmònjá. Muitas pesquisas apontam ainda que os yorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima. Assim Nànàn assume, como outros Òrísás femininos, o conceito de maternidade como função principal. É neste contexto, que Nànàn apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Íròkò,Òmòlú e òsúmárè, já citados anteriormente.
Nànàn tem como principal símbolo o ìgbírí feixe de nervura de dendezeiro envolto, que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando a vida que retorna. Algumas lendas contam que o ígbírí representa òmòlú, o filho que Nànàn abandonou no rio para que não fosse morto pelo rei de dahomey por causa de suas chagas, que as julgavam contagiosas.
Poucos aqui no Brasil são iniciados para essa grande Deusa. Seu culto é muito pouco conhecido e o temor de sua representação impede que os sacerdotes a cultue diretamente pois, acreditam representar a própria morte. Quando um neófito está sendo iniciado para esse òrísá, durante seu período de reclusão, são feitos vários ègbós para cortar a ligação com Íkú(a divindade da morte) e todos os pertencentes do ásé devem se abster de sexo, bebidas e usarem contra-ègúns com finalidade de proteger-se de qualquer negatividade relacionada aos ancestrais e a própria morte. Seu culto não deve conter nenhum objeto ritual feito de metal, devido à sua origem ser anterior à existência dos mesmos. Outros dizem que Nànàn não usa metal devido a um desentendimento com Ògún, o Deus do ferro e da guerra. Nànàn é a senhora da renovação, da cultura, do desencarne e da reencarnação. Tem ligação tanto com os ancestrais femininos quanto com os ancestrais masculinos, sendo cultuada, invocada e respeitada em ambos os cultos. Tem como símbolo também os búzios pois representam a morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram os órgãos genitais femininos, também pertencentes a Nànàn.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nànàn é o “grão”, pois ela possui o domínio da agricultura e todo “grão” tem que morrer para germinar.
Nànàn é nossa grande mãe, sem ela não existiria a vida e nem nossa casa que é a Terra.
Vodum Anabioko:
Vodum Ibolukan: